A balança comercial brasileira de julho registrou superávit de US$ 8,1 bilhões, o maior resultado da série histórica iniciada em 1989. O número divulgado nesta segunda-feira reflete os efeitos da pandemia do comércio global, que diminuiu as importações, e o preço do dólar, que tornou os produtos brasileiros mais atraentes no exterior.
O resultado da balança comercial de US$ 8,1 bilhões é o saldo entre a exportação de US$ 19,6 bilhões e a importação de US$ 11,5 bilhões em julho. Na comparação da média diária (total dividido pelo número de dias do mês) com julho de 2019, a queda nas exportações foi de 2,9 %, enquanto as importações caíram 35,2%.
Com uma queda das importações bem mais acentuada, o superávit tende a ser maior, embora ambos apresentem reduções nos valores.
Essa redução pode ser vista na queda de 18% na corrente de comércio, que é a soma de exportações e importações. Em julho de 2019, a corrente era de US$ 37,9 bilhões contra US$ 31,1 bilhões este ano. Essa estatística mostra a intensidade do impacto da desaceleração do comércio mundial no Brasil.
Exportações
O nível das exportações se manteve parecido com o do mesmo período do ano passado puxado por um crescimento no setor da agropecuária de 17,3% (US$ 31,5 milhões) e na indústria extrativa, de 1,5% (US$ 2,9 milhões) na comparação da média diária. Ambos os setores contribuíram para compensar a queda de 12% (US$ 59,8 milhões) na indústria de transformação entre julho deste ano e de 2019.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, afirmou que as vendas de produtos agrícolas sofrem menos variações e contribuíram para a manutenção do patamar de exportações.
— Podemos ver uma alta resiliência das nossas exportações de produtos agropecuários e agronegócio em geral. A gente já destacou o fato de que são produtos que desde o início da crise apresentaram mais resiliência, por conta da própria característica dos produtos. São produtos agrícolas, alimentares e menos sujeitos a flutuações de renda.
O presidente executivo da Associação de Comércio Exterior Brasileira (AEB), José Augusto de Castro, alerta para uma queda nas exportações nos próximos meses porque as vendas da safra de soja devem acabar em breve.
— A tendência é que as importações mantenham o nível atual e a média diária das exportações diminuam porque acaba o embarque da soja, que é o principal item da pauta exportadora.
A valorização do dólar dos últimos meses também contribuiu para o resultado. Com uma moeda mais desvalorizada lá fora, os preços dos produtos ficam mais baratos para o comprador estrangeiro.
Do lado das importações, o setor da indústria de transformação também puxou a queda. A redução foi de 33,6% (US$ 235 milhões), com queda nas compras de óleos combustíveis, plataformas de petróleo e obras de ferro. As compras na indústria extrativa tiveram uma queda um pouco menor, de US$ 33,7 milhões (62,7%). Já o setor agropecuário teve uma queda de 6,5% (US$ 970 mil).
China aumenta compras
Assim como em meses anteriores, as exportações para a Ásia, especialmente a China, registraram aumento. Só para os chineses, a média diária de exportações aumentou 24,3% (US$ 61,1 milhões).
O principal aumento nas vendas para a Ásia foi a soja, que subiu de 32,1% (US$ 31,7 milhões), seguido de óleo bruto de petróleo, com 24,4% (US$ 12,2 milhões) e carne bovina, com alta de 94,5% (US$ 10,1 milhões).
Por outro lado as exportações para os Estados Unidos caíram 37,4% (US$ 44,7 milhões) na média diária, assim como para a Europa, que teve uma queda geral de 3,64% e para os países vizinhos do Brasil, como a Argentina, com queda de 18,6% (US$ 7 milhões) e Colômbia, que registrou redução de 30,6% (US$ 4 milhões).
Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, essas diferenças tem dois aspectos importantes. A primeira é que os países da Ásia estão saindo mais cedo da crise e são eles os principais compradores de commodities.
A segunda é que as exportações industriais brasileiras têm como destinos principais os Estados Unidos, a Europa e a Argentina, que ainda sofrem com efeitos mais intensos da pandemia.
Com esse balanceamento, as exportações brasileiras em junho estão bem mais concentradas na Ásia do que no mesmo mês de 2019. Em junho de 2020, 50,6% das exportações foram para a Ásia, sendo 37,9% para China, Hong Kong e Macau. No ano anterior, a concentração era de 42,6% e 29,9%, respectivamente.
O fenômeno contrário acontece na América do Norte. Lá, a concentração de exportações caiu de 17,6% para 12,6%, com queda de 13,6% para 8,8% nos Estados Unidos. Lucas Ferraz entende que essa concentração na Ásia é temporária por conta das características da recuperação econômica mundial.
— Na conjuntura atual, é natural que essa concentração aumente. No entanto, é bem possível que com uma recuperação que já dá sinais concretos no caso do continente europeu e recuperação da economia americana no segundo semestre, as exportações de outros produtos, sobretudo industrializados, ganhem mais peso na nossa pauta exportadora.
Fonte: O Globo